Arcano 3 - A Imperatriz

28.7.08

O Eremita

No Tarot, o Eremita é um andarilho que se arrisca, como o Louco, mas com mais cautela. Por isso, caminha mais lentamente. O Eremita é O Louco que envelheceu (ou amadureceu, para quem preferir).
Sua caminhada é mediada por um cajado e sua trajetória iluminada por uma lamparina. Ambos têm a clara função de sustentar seus passos e indicar por onde pode ir.
A imagem de O Eremita é a de um senhor vestindo uma longa túnica escura, com capuz, no alto de uma montanha, segurando um cajado numa das mãos e uma lamparina na outra. Ele está prestes a iniciar a descida que o levará ao lugar de origem, mesmo que ele precise ir por outra trilha (ou picada).

Nessa jornada, O Eremita terá a oportunidade de rever o passado, podendo curar feridas, fechar ciclos, encontrar soluções para questões pendentes e, sobretudo, observar as situações com os olhos da experiência, maturidade, sabedoria.

O cajado é, então, importantíssimo, não apenas para indicar o melhor lugar onde O Eremita pode (ou deve) pisar mas, principalmente, para sustentar seu corpo, caso necessário. Apesar disso, O Eremita não está livre de uma escorregadela ou de uma queda, de arranhões e ferimentos, mas, justamente porque é previdente, se cair, levantará e se ficar ferido, poderá encontrar a cura.

Não importam quais sejam as condições atmoféricas sob as quais O Eremita caminha, o fato é que ele percorre sua estrada sob as intempéries. Não há abrigo, não há proteção, não há confortos ou comodidades, nem infra-estrutura. Nada. O caminho pode ser absolutamente árido, o sol pode ser escaldante. Também, ao contrário, é possível que faça frio intenso, que o céu esteja nublado, ou que haja neblina, chuva, tempestade, ventanias, neve. Por mais adversas que sejam as condições, no entanto, O Eremita deve prosseguir, mesmo que seja apenas para chegar ao fim de uma picada, de onde deverá voltar e retormar sua trilha. Ou seja, já que a descida é inevitável, O Eremita relaxa e desce...

Por outro lado, em seu percurso, O Eremita pode encontrar muita água, seja por um riacho que o acompanhe, seja por uma farta cachoeira. Pode haver muito verde, árvores frutíferas e flores, passarinhos e animais silvestres e, quem sabe, uma trilha já aberta por outros que deixaram as indicações do melhor rumo a tomar. De repente, pode ser que haja um pouco de sombra e um lugar onde se recostar.

Evidentemente, essa descida é simbólica, já que representa um processo de introspecção. O percurso poderia ser uma subida ou um caminho plano. A jornada pelo Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, por exemplo, surte impressionantes efeitos sobre quem a faz.

No entanto, fundamentalmente, quando O Eremita percorre o caminho de volta, o passado fica em seu devido lugar. Para trás, ficam os problemas, os medos, os conflitos, as derrotas, mas também as conquistas, as alegrias, os amores, os prazeres. Tudo aquilo que já foi vivenciado passa a uma outra dimensão: a da memória que, por sua vez, pode ficar para trás, pode extinguir-se, lenta e definitivamente. Então, as vivências serão imagens de aventuras, lembranças de vitórias e superações, recordações de pessoas amadas, "causos" que merecem ser contados, sorrisos que se esboçam no rosto ou lágrimas que escorrem devagarzinho pela face.

O Eremita é um solitário, sempre. Sua única companhia é ele mesmo, sua história, sua memória consciente e, sobretudo, inconsciente. À medida que seu passado vai aparecendo, via lembranças ou situações com cara de "já-vi-esse-filme", as soluções vão surgindo junto, a oportunidade de cura chega junto com a consciência da doença.

A percepção de que uma tal situação é parecida com outra (já foi experimentada antes) é útil para que O Eremita reflita sobre suas decisões e ações anteriores e, assim, reescreva o texto da estória já vivenciada, decidindo de forma diferente e tomando outro tipo de atitude. Ao mudar o enredo, O Eremita pode salvar-se e, assim, transcender e passar a outro patamar no que se refere a determinado assunto.

Então, em seu próprio ritmo, seguindo seu própria percepção e com a devida concentração, O Eremita caminha...

22.7.08

A Lua

Tenho experimentado o Nada, em alguns dia de recesso em Pirenópolis, Goiás.

Fazer Nada permite-me estar em contato com minha essência, de uma forma diferente daquela que consigo em Brasília, porque lá tudo é diferente.

Sou, como A Lua - o Arcano XVIII - muito intuitiva e, como A Lua, sou de fases, aliás, como todas as mulheres também o são, embora algumas neguem veementemente essa característica tão feminina.

No Tarot, A Lua é a terceira face da Deusa Tríplice. As três fases são as três idades da mulher: a fase crescente representa a Donzela, que é o Arcano II, A Grande Sacerdotisa; a lua cheia é a Mãe, que é o Arcano III, A Imperatriz; e fase minguante é Anciã, que é o Arcano XVIII, A Lua. Esta sou eu, posto que já tive menopausa.

Embora não me sinta para nada uma pessoa idosa - e não o sou - biologicamente já pertenço a essa classe muito interessante de mulheres sábias.

A Lua traz uma impressionante conexão com o Sagrado Feminino, que cultivo. É um Arcano muito associado ao culto à Deusa, especialmente por estar ligada aos rituais lunares, os esbaths, realizados no plenilúnio, que é a lua cheia.

A Lua é a regente do inconsciente - coletivo ou individual - e, assim, refere-se ao que está "oculto" da mente objetiva. Por isso, algumas pessoas associam esse Arcano ao mundo das ilusões e às falsidades, tramóias e embustes enngendrados na calada da noite.

Contudo, isso não é assim. A Lua permite a conexão do inconsciente com o consciente, revela o que está oculto, amenizando, nessa comunicação, os tons do texto que o mundo objetivo, "real", visível e tangível às vezes escreve de forma dura, seca e fria.

Nessa tarefa de revelar uma realidade que ainda não foi tornada consciente, A Lua utiliza lança mão de recursos como a clarividência e a clariaudiência; a percepção extra-sensorial; a precoginição; e a intuição, entre outros.

Ainda, a Lua refere-se a um importante conceito desenvolvido por Carl Gustav Jung: a sincronicidade, que define acontecimentos que estão articulados entre si, não por uma relação de causa e efeito, mas por uma relação de significado. A essa articulação, Jung deu o nome de "coincidência significativa".

A sincronicidade é reveladora, mas é necessário que seja compreendida e essa compreensão, que Jung chamou de insight, deve ser espontânea, desprovida de racionalização.

Aliás, A Lua pode ser tudo, menos racionalização. Ao contrário, é sensibilidade, emoção, sentimento, cuja intensidade varia conforme a fase lunar.

Por isso o Arcano XVIII pede que se experimente o Nada. Porque a luz que vem de dentro, ainda que pareça ser o reflexo da luz que vem de fora, é a luz que realmente vale.

Blessed be!

Retomando

Depois de muito tempo de criação, estou retomando o blog...

Não tenho lá muita disciplina para manter um blog diário, mas estas são épocas de reeducação...
Então, mãos à obra.