Arcano 3 - A Imperatriz

6.8.08

O Carro

Essa ida a Pirenópolis - e o passeio à Cachoeira do Rosário - está rendendo...

Nunca pensei que meu Celta 1.0, de 2002, fosse dar conta de um tal recado: atravessar uma macropoça dágua (ou seria um microlago?), ali chamada de riacho, bem no meio do caminho de terra que leva até a Cachoeira do Rosário.

Fiquei tão orgulhosa com o desempenho do possante, poderoso, que até tirei foto do meu valente carrinho. Antes, meu carro nunca tinha saído da urbe e já foi lá, com seis aninhos de vida, um "idoso", podemos dizer, meter-se numa aventura daquelas, própria de jovens robustos com tração nas quatro rodas... Quando muito, meu carro já tinha ido a uma chácara ou outra de algum amigo, por uns duzentos ou trezentos metros de terra... Mas nunca tinha atravessado uma porção de água daquelas, não! Nem nas mais intensas chuvas de Brasília, quando costumamos ter que enfrentar alguns pontos de alagamento. E eu, que nem sabia que meu carro era anfíbio....
Quando me vi diante daquele obstáculo, respirei fundo, diminui a marcha, engatei a primeira e fui, curtindo a paisagem. No caminho de ida, resolvi que quando voltasse tiraria uma foto, porque achei o máximo fazer aquilo no meu carro velhinho, baixinho, de motor mil, bem básico...
Assim é na vida, ensina-nos o Arcano VII, O Carro (ou A Carruagem, que é o que havia na Idade Média, cujo cotidiano castelar é retratado no Tarot). Os caminhos da Vida devem ser trilhados com firmeza, coragem e determinação. É necessário foco e, preferencialmente, é importante que se saiba onde se quer chegar e, por via de conseqüência, é indicado ter uma noção do caminho a ser percorrido.

Evidentemente, é possível que se saia de carro a esmo, como quando se sai a passeio, sem objetivo definido e descobrindo o caminho durante o percurso. Entretanto, isso não é o que acontece sempre, sobretudo porque o consumo despropositado de combustível não faz bem ao planetinha, nossa querida Terra, nem a algo muito mais comezinho: o bolso. Além do mais, há o desgaste do motor, dos pneus etc.

O Carro traz uma mensagem ligada à coragem, à determinação, à firmeza e ao foco (ou concentração, para quem preferir) e a metáfora do trânsito vem bem a calhar. Quando dirigimos, devemos estar descansados, livres de estresse, sóbrios e lúcidos, para dizer o mínimo. Nem sempre estamos descansados e o trânsito é, hoje, um dos principais fatores de estresse, especialmente nas grandes cidades. Isso já está acontecendo em Brasília, onde há muito veículo para pouca rua - e olha, as ruas daqui são super largas - e as vagas para estacionarmos os carros parecem sumir quando a cidade acorda...

Brasília, por exemplo, parece um grande autorama! Suas vias são bastantes amplas e convidativas à alta velocidade. O pedal do acelerador parece que pede para que nosso pé afunde mais e mais... Felizmente, somos regulados pelos "pardais" (aquelas câmeras que fotografam os veículos que trafegam acima da velocidade permitida).

Coragem é algo muito interessante. Sempre que nos sentimos intimidados ou com medo, sempre que deixamos de encarar as situações que se apresentam, perdemos a oportunidade de resolver os problemas, deixamos de exercer a criatividade, renunciamos ao poder.

Assim, O Carro também fala de êxito, vitória, reconhecimento público. Ele ensina que se a vida for conduzida sem hesitações e com decisão, sem medos que nos imobilizam, os objetivos têm grandes chances de serem alcançados. Claro, para isso, é importante haver algum planejamento e planejar significa, também, prever possíveis desvios de caminho, ter um "plano B" ao qual recorrer, caso o "plano A" venha a falhar. Entretanto, quando estamos preparados, mesmo os imprevistos não nos perturbam e, então, descobrimos que a situação inesperada pode ter sido, sim, providencial.

Convém evitar atalhos. Estes, muitas vezes, fazem as coisas saírem do controle e, daí, perdemos tempo e oportunidades, por querermos fazer "do jeito mais fácil". Vemos isso no trânsito: quantos acidentes poderiam ser evitados se alguns motoristas "espertinhos" evitassem os atalhos? Por atalho, não me refiro aos caminhos mais curtos, aqueles fora da via principal, pelos quais se encurta a distância entre dois lugares. Estes podem - e geralmente devem - ser adotados tranqualimente. É muito mais fácil e ágil usarmos os famosos "ctrl+c" e "ctrl+v" do que clicar em "editar" e depois em "copiar", daí em "editar" outra vez e em "colar". Refiro-me, por exemplo, a algumas manobras que certos maus motoristas utilizam no trânsito, como fazer conversões proibidas, ao invés de dirigir mais alguns metros até um local mais apropriado para retornar. Esse tipo de hábito, sabemos, deixam-nos muito mais vulneráveis a acidentes, alguns fatais.

Em se tratando de reconhecimento, O Carro, faz-e lembrar do filme Ben Hur, daquela cena em que ele retorna a Roma e é ovacionado. Depois de uma jornada intensa - e tensa - por sua vida, durante a qual enfrentou até uma corrida de bigas - ele conhece a vitória e é reconhecido como herói.

O Carro, então, descreve a jornada do herói. Daqui a alguns dias começarão as Olimpíadas de Pequim. Ouviremos, orgulhosos, o Hino Nacional tocar muitas vezes, vibraremos com a vitória de nossos ateletas, derramaremos emocionadas lágrimas junto com eles, ficaremos tristes quando perderem, como se a derrota fosse nossa, entraremos em contato com suas histórias de vida, quereremos ser iguais a eles, teremos consciência de que eles só podem estar ali, vencendo ou perdendo, porque têm coragem, determinação, disciplina, foco...

A jornada do herói - que, se olharmos bem, é diária - só pode ser realizada por pessoas resolutas. Supõe a superação dos obstáculos, das distraçõs, dos conflitos - internos e externos - que todos os dias aparecem serelepes, para que nos desviemos de nossos propósitos. Diariamente somos testados, provocados, fazemos escolhas - e toda escolha significa renúncia - somos obrigados a avaliar nossos potenciais e nossas limitações. Todos dos dias precisamos nos significar e ressignificar, desconstruir e reconstruir, rever nossos valores, enfim, reinventar o Ser... Não é fácil ser herói, mas é preciso conhecer o herói que trazemos em nós, para que nossa passagem aqui por Gaia tenha significado.

Então, quando penso no meu celtinha atravessando aquela enorme poça, fico feliz em saber que eu mesma já venci muitas jornadas.

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